segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Atitude de Jacob Zuma face a JES objecto de críticas internas


Jacob Zuma

1 . O PR da África do Sul, Jacob Zuma vem sendo alvo de recriminações internas, no ANC, Governo e sociedade em geral, devido à atitude alegadamente "subserviente" que cultiva em relação ao seu homólogo de Angola, José Eduardo dos Santos (JES). Considerações em que as críticas radicam:

    • É uma atitude em desarmonia com a superior importância estratégica da África do Sul; afecta o prestígio país e suas aspirações legítimas de continuar a ser a principal potência regional.
    • É ditada por sentimentos/complexos de inferioridade, bem como por interesses materiais de natureza privada.

    As críticas a J Zuma incluem conjecturas segundo as quais o mesmo está assim a "dar vazão" a uma antiga ambição de JES de se afirmar com "líder regional", um estatuto que naturalmente cabe ao PR da África do Sul em razão de factores-chave: grandeza da sua economia, população, poder militar e posição geográfica.

    São atribuídos a dirigentes angolanos desabafos como o de que a superior importância estratégica da África do Sul é "temporária". O outlook respectivo é o de que Angola se encontra numa curva ascendente de desenvolvimento e afirmação regional/internacional, enquanto a África do Sul segue rumo inverso.

    2 . As primeiras manifestações internas de desagrado face à "complacência" que J Zuma denota em relação a JES estalaram quando o mesmo se prontificou comparecer, em 2008, ainda apenas como líder do ANC, numa cerimónia comemorativa do 20º aniversário da chamada Batalha do Cuito-Cuanavale.
    O carácter considerado "fantasioso" que o regime angolano faz dos acontecimentos de então é associado à intenção de exaltar méritos de JES como estadista e projectá-los à escala regional. As autoridades da Namíbia, incluindo Sam Nujoma, em 2008, têm-se escusado a participar mas referidas cerimónias – agora anuais.

    
    Duduzile Zuma Aka Dudu
    
    3 .  O embaixador de Angola em Pretória, Miguel Neto foi inesperadamente chamado a Luanda, o que aconteceu em 22.Mai, com o fim deduzido de participar nas conversações, pelo menos parcialmente; o jornal O País, com estreitas ligações a círculos da PR, noticiara antes da referida data, sem pormenores, uma próxima visita de J Zuma.

    É corrente em meios sul-africanos conhecedores do assunto que J Zuma tem interesses pessoais no sector dos diamantes em Angola, uma vantagem que também contempla uma filha, Duduzile Zuma aka Dudu, a qual viaja amiúde para o país; a evidência é considerada uma causa da atitude de J Zuma face a JES.
    Alguns dias depois da visita de J Zuma foi anunciado o lançamento de um projecto diamantífero, Luana, Lucapa, no qual a Trans-Hex, empresa ligada ao ANC, tem uma participação de 37%; a Endiama é maioritária, com 39%, estando a parte remanescente repartida por empresas angolanas desconhecidas – Za-Kufuma, Wengi e Kaxingi.
    A partir de 1992 o regime angolano abriu sectores da sua economia a interesses sul-africanos, o que correspondeu ao cálculo de captar simpatias e apoios na África do Sul em sectores que não lhe eram favoráveis ou eram conotados com a UNITA; o largo espectro de tais sectores abrangeu indivíduos/grupos do ANC, mas também do regime então ainda vigente.
    Informações consideradas suficientemente verificadas indicam que J Zuma esteve discretamente em Luanda, 21/22.Mai, para conversações com JES; a agenda terá abarcado assuntos de Estado mas também privados. Um dos assuntos de Estado é uma proposta sul-africana (diminuta receptividade angolana) visando a abolição recíproca de vistos ordinários.

    A postura dita "subalterna" de J Zuma em relação a JES, também é objecto de críticas por ter rompido com uma linha observada pelos seus antecessores, Nelson Mandela e Thabo Mbeki, a qual consistia em não pactuar com pretensões de JES, incluindo a de se afirmar como líder regional; ambos nutriam pouco apreço por JES.

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