A Media Nova está a passar por agudas dificuldades financeiras, em geral atribuídas a um desequilíbrio acentuado entre encargos gerais e receitas – estas de grandeza substancialmente inferior às estimativas iniciais. Não são consideradas consistentes, porém, previsões de falência iminente do grupo e respectivo projecto – aparentemente lançado em condições de não sujeição a critérios de rentabilidade económica. A medida delineada para fazer face à presente situação é a injecção de capital por parte dos investidores do grupo, paralelamente a uma redução de custos. A falência afectaria o prestígio dos promotores e investidores da Media Nova, entre os quais de contam, de facto, figuras proeminente do regime, como o Gen M H Vieira Dias. Do plano de redução de custos faz parte a dispensa de quadros expatriados, em geral portugueses. João Proença de Carvalho, ex-director técnico da Damer, gráfica do grupo, já saiu em Dez. 2009; a vários outros foi comunicada a intenção de não renovação dos respectivos contratos. A Damer, apresentada como uma das mais sofisticadas unidades gráficas de África, dotada de condições para corresponder à procura do mercado interno em termos de fabrico de notas e impressão de livros escolares, tem laborado a níveis considerados muito inferiores à sua capacidade instalada (estima-se que só 15% dos livros escolares estejam a ser impressos na Damer; a parte remanescente na África do Sul). Todos os media pertencentes ao grupo (TV Zimbo, Rádio Mais, Jornal O País e revistas temáticas), são deficitários.
As dificuldades internas em que a Damer se encontra resultam em grande parte do incumprimento de um contrato para a impressão de c 20 milhões de livros escolares, encomendados pelo Ministério da Educação. A gráfica, ligada ao grupo Media Nova, deveria ter procedido à entrega integral da encomenda em Jan. 2010, após o que lhe deveria ser pago o valor contratado; como só entregou uma pequena parte da encomenda, não recebeu mais do que o chamado “sinal”. O ministério teve de recorrer a outras gráficas, Imprensa Nacional e Ponto Um, para colmatar a lacuna do incumprimento da Damer – uma unidade tecnologicamente avançada e com capacidade instalada para atender facilmente a encomendas volumosas, mas cujo rendimento tem sido atrofiado por problemas de organização e gestão.
Assinalada em recente intelligence assessment sobre Angola a existência de um clima interno de coacção sobre os jornalistas e os media (fenómeno descrito como reflexo de medidas subliminares das autoridades tendo em vista fomentar pressão destinada a impedir uma exacerbação de descontentamentos políticos e sociais). Entre as referidas acções de coacção, alargadas a articulistas ou colunistas com o estatuto de colaboradores externos, predominam intimidações – de natureza variável. Também se deduz que as situações de penúria em que se encontram alguns grupos de imprensa aparentemente ligados ao establishment político, entre os quais a Media Nova obedecem a cálculos como o de apoquentar jornalistas e condicionar a sua actividade.
Source: AM
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