quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Rádio Ecclesia muda linha informativa na esteira de conversações com Governo

1 . Os critérios informativos da Rádio Ecclesia (selecção de temas, seu tratamento e ordem de apresentação nos noticiários), foram alterados no sentido do que se supõe ser uma decisão interna de adoptar uma linha editorial menos atenta aos assuntos políticos domésticos e nitidamente neutra na abordagem dos mesmos.

A mudança, patente em evidências como uma agora sistemática preferência por temas de cariz social, cultural e outros para abertura dos noticiários (antes, predomínio dos políticos), está a gerar críticas em sectores da sociedade que vêm a mesma como reflexo de entendimentos com o Governo, mas também como causa de futura perda de credibilidade da estação.

A relação entre as mudanças notadas na Rádio Ecclesia e eventuais compromissos com as autoridades, é vista no plano geral de um forcing do regime no sentido de reforçar a sua capacidade para acompanhar/controlar o sector da comunicação social; medidas ilustrativas do referido forcing:

ü  Pressões sobre orgãos e jornalistas (Assinalada em recente intelligence assessment sobre Angola a existência de um clima interno de coacção sobre os jornalistas e os media (fenómeno descrito como reflexo de medidas subliminares das autoridades tendo em vista fomentar pressão destinada a impedir uma exacerbação de descontentamentos políticos e sociais). Entre as referidas acções de coacção, alargadas a articulistas ou colunistas com o estatuto de colaboradores externos, predominam intimidações – de natureza variável. Também se deduz que as situações de penúria em que se encontram alguns grupos de imprensa aparentemente ligados ao establishment político, entre os quais a Media Nova obedecem a cálculos como o de apoquentar jornalistas e condicionar a sua actividade. ).

ü  Aquisição de jornais privados e emprego de técnicas subtis de subordinação (Os três jornais angolanos adquiridos em Mai por uma sociedade cujo anonimato continua a dar azo a especulações, estão todos a passar por dificuldades internas, em geral decorrentes de problemas de tesouraria e de indefinições no que toca ao seu futuro. A situação mais aguda é a do Novo Jornal, também devido à sua superior dimensão. Em meios locais atentos ao assunto conjectura-se que a aquisição das publicações fez parte de um plano subreptício destinado a asfixiá-las a seguir. Entre os factores que sustentam tais conjecturas avulta a visão que altos dirigentes têm do futuro do sector; M H Vieira Dias "Kopelipa", p ex, diz em privado que bastam a Angola dois semanários e dois diários – sendo um destes o Jornal de Angola e outro O País, a cujo lançamento esteve ligado e que assim deixaria de ser semanário) dos mesmos e dos seus quadros.

ü  Lançamento de novas estações de rádio (meio com mais capacidade de difusão local), por iniciativa própria ou através de entidades consideradas confiáveis.

Uma política de mais apertado controlo da comunicação social por parte do Governo foi considerada “conveniente” como forma de contrariar uma proliferação de “focos de oposição” com propensão para dar vazão e/ou ampliar sentimentos de descontentamento identificados na população.


2 . Em Set, no seguimento de manifestações públicas de boa vontade da parte das autoridades em relação à Radio Ecclesia, foram abertas conversações nas quais, em representação da Conferência Episcopal, participaram D. Filomeno Vieira Dias, Bispo de Cabinda, e D. António Jaka, Bispo de Caxito.

D. Filomeno Vieira Dias faz parte de uma sensibilidade do episcopado angolano, que considerava a linha editorial da Rádio Ecclesia como sendo de “oposição ao Governo”, remetendo para a mesma a causa da atitude de protelamento do licenciamento oficial da emissora para emitir em onda curta para todo o território.

A coincidência temporal entre as mudanças registadas na linha informativa da Rádio Ecclesia (Pe Maurício Camuto, DG da emissora, instruído para tal) e a abertura de conversações com o Governo, faz supor que as mesmas são resultado de compromissos já alcançados ou, então, reflexo de uma vontade da Igreja Católica de criar ambiente propício aos mesmos.
As informações segundo as quais já teria sido alcançado um compromisso indicam que em breve a Rádio Ecclesia será autorizada a emitir em onda curta para as províncias do Bié, Cuanza Sul e Malanje, utilizando para tal retransmissores instalados há vários anos, mas nunca usados por ausência de licenciamento para tal..
O sistema de extensão a todo o território do sinal da Rádio Ecclesia, emitindo a partir de Luanda, assenta numa rede de transmissores provinciais, quase todos já montados, mas inoperantes. Foram adquiridos com fundos postos à disposição da Igreja Católica pela Fundação Ford.
O levantamento da restrição até agora imposta à Rádio Ecclesia é também visto como um precedente de que o Governo necessita para posteriores licenciamentos da mesma natureza em benefício de outras igrejas, em especial a dos tokoístas, com a qual as autoridades cultivam uma aproximação.


3 . A Rádio Despertar, ligada à UNITA, objecto de recentes advertências públicas por parte do novo secretário do BP do MPLA para a Informação, Rui Falcão, passa presentemente por uma crise interna à qual, conforme vaticínios habilitados, dificilmente resistirá, por ausência de condições de sobrevivência.
Dez jornalistas dos seus quadros, invocando motivos tais como atraso no pagamento dos salários (4 meses, à razão de USD 400/mês), bem como atitudes de “desconsideração” da parte do responsável do sector da informação da UNITA, Marcolino Nhany, concertaram-se para abandonar a rádio; têm ingresso assegurado na RNA e TPA.
Source: AM

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